O INFERNO, SEGUNDO SANTA CATARINA DE SENA (Doutora da Igreja)
Diz-lhe Jesus: “Filha, a tua linguagem é incapaz de descrever os sofrimentos desses infelizes… No Inferno, os pecadores padecem quatro tormentos principais: Primeiro tormento: é a ausência da Minha visão. Um sofrimento tão grande, que os condenados, se fosse possível, prefeririam sofrer o fogo, vendo-me, do que ficarem fora dele sem Me verem. Segundo tormento, como consequência, é o remorso que corrói interiormente o pecador, privado de Mim, longe da conversação dos Anjos, a conviver com os demônios. Aliás, a visão do Diabo constitui o terceiro tormento.Ao vê-lo, duplica-se o sofrer… Os infelizes danados vêem crescer os seus padecimentos ao verem os demônios. Nestes, eles conhecem-se melhor, entendendo que pela própria culpa mereceram o castigo. Assim, o remorso martiriza-os e jamais cessará o ardor da consciência. Muito grande é este tormento, porque o Diabo é visto no seu próprio ser; tão horrível é a sua fealdade, que a mente humana não consegue imaginar… Segundo a Justiça Divina, ele é visto mais ou menos horrível pelos condenados, conforme a gravidade das suas culpas. O quarto tormento é o fogo. Um fogo que arde sem consumir, sem destruir o ser humano. É algo imaterial, que não destrói a alma incorpórea. Na Minha Justiça, permito que tal fogo queime, faça padecer, aflija; mas não destrua. É ardente e fere de modo crudelíssimo e de muitas maneiras. A uns mais, a outros menos, segundo a gravidade dos seus pecados.” (Santa Catarina de Sena, ‘O Diálogo’, 14.3.2)Na sua visão contêm os detalhes do sofrimento no inferno que é de acordo com aquilo que a Igreja acredita: O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos quem morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofre as penas do Inferno, “o fogo eterno”. A pena principal do Inferno consiste na separação eterna de Deus, o Único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira. (CIC§ 1035)
O INFERNO, SEGUNDO SANTA JOSEFA MENENDEZ
” Vi muita gente do mundo a cair noInferno, e agora as palavras não podem descrever, nem por assombro, os seus horríveis e espantosos gritos:
‘Condenado para sempre… Eu me enganava a mim mesmo… Estou perdido… Estou aqui para sempre, eternamente!’
Os ruídos de confusão e blasfêmias não cessam, nem por um instante.
Um nauseabundo odor asfixia e corrompe tudo; é como queimar carne putrefacta, misturada com alcatrão e enxofre…
Uma mistura a que nada na terra pode ser comparável.
Comecei a ouvir muitos gritos, e de seguida encontrei-me numa passagem muito estreita.
Na parede existia uma espécie de nichos, donde sai muito fumo, mas sem chama e com muito mau odor.
Eu não posso dizer o que se ouve, toda a classe de blasfêmias, de palavras impuras e terríveis.Uns maldizem o corpo… Outros maldizem seu pai ou sua mãe… Outros reprovam-se a si mesmos, por não terem aproveitado tal ocasião, tal luz, a fim de abandonarem o pecado.
Enfim, é uma confusão tremenda de gritos de raiva e desespero…
Mas o que não tem comparação com nenhum tormento é a angústia que sente a alma, vendo-se separada de Deus.
Para poder livrar-me do Inferno, e eu que sou tão medrosa para sofrer, nem sei ao que estou disposta.Não sei dizer o que sofro… É tremenda tanta dor…
Parece que os olhos saíram do seu lugar; é como se mos tirassem, arrancando-os…
Os nervos contraem-se. O corpo está como dobrado, não pode mover-se, nem um dedo…
O odor que existe é horrível, não se pode respirar, mas tudo isso é nada em comparação com a alma que, conhecendo a Bondade de Deus, vê-se obrigada a odiá-Lo, e sobretudo se O conheceu e amou, sofre muito mais… “(Cf. Josefa Menendez, ‘Convite ao Amor Divino’)
O INFERNO, SEGUNDO SANTO ANSELMO

O inferno visto e descrito por Santa Francisca Romana
“Lembra-te dos teus novíssimos e não pecarás” (Ecl. 7,40) — recomenda a Sagrada Escritura. Os novíssimos do homem são as últimas coisas que a ele ocorrerão, ou seja, a morte, o juízo particular, o Céu, o inferno, o purgatório, o fim do mundo, a ressurreição dos mortos e o juízo final.
A 9 de março a Igreja comemora a festa de uma grande santa, cuja vida foi marcada por extraordinárias visões que teve do Céu, purgatório e inferno, bem como a ação dos anjos e dos demônios neste mundo. Trata-se de Santa Francisca Romana.
Nasceu ela em 1384, da nobre família dos Brussa. Com apenas 12 anos, levava já uma vida extraordinária. Sua intenção era de não se casar, mas seu confessor aconselhou-a a não resistir às instâncias de seus pais, tendo esposado então Lourenço de Poziani.
Logo que se casou, caiu gravemente doente, sendo curada milagrosamente por uma aparição de Santo Aleixo, mártir romano. No lar, o teor de sua vida era severo e admirável. Desde o seu restabelecimento, Francisca dedicou-se largamente às obras de caridade. Junto à cunhada Vanosa, pedia esmola de porta em porta, para dar aos pobres nas vias públicas, em zonas onde não era conhecida.
Deus abençoou seu matrimônio, concedendo-lhe seis filhos. O falecimento do filho João, ainda criança, constituiu uma das alegrias de sua existência. Teve ele uma morte extraordinária, e disse ao expirar: “Vejo Santo Antônio e Santo Onofre, que vêm buscar-me para me levarem ao Céu”.
Vários fatos de transcendência pública influenciaram sua vida: a tomada de Roma pelo Rei de Nápoles, que desencadeou uma série de catástrofes sobre sua família; o exílio do Papa Eugênio IV, em virtude da guerra entre florentinos e milaneses, etc.
Ainda em casa do esposo, congregou em torno de si muitas senhoras da melhor sociedade romana, com o fim de se animarem na prática da piedade e virtudes cristãs.
Formou-se a primeira organização de senhoras que, em 1431, recebeu uma regra própria, dando origem às Oblatas de Santa Francisca Romana, cujo pequeno convento tinha o pitoresco nome de Tor de ‘Spechi.
Após a morte do marido, juntou-se a suas filhas espirituais, conduzindo-as aos hospitais e às casas dos pobres. Muitas vezes, em lugar de um remédio ou recurso insuficiente, foi uma cura súbita e miraculosa que Santa Francisca levou aos necessitados.
Deus a consolou com revelações e comunicações místicas sobre a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e Maria Santíssima. Tornou-se célebre por seus milagres e dons de cura. Restituiu a vista aos cegos, a palavra aos mudos, a saúde aos doentes, e libertou muitos possessos do demônio.
Santa Francisca teve o pressentimento de sua morte e preveniu seus amigos. Pedia a Deus que a levasse desta vida, pois não queria ver as novas crises que já começavam a assaltar a Santa Igreja. Caiu enferma, vindo a falecer em 1440.
Na vida dessa mística italiana, as visões ocupam um lugar saliente. A propósito do que a Santa viu sobre o inferno, o célebre escritor católico francês Ernest Hello apresenta um apanhado sucinto e sugestivo em sua obra “Physionomie des Saints”, o qual exporemos abaixo.
Inúmeros suplícios, tão variados quanto os crimes, foram mostrados à Santa em detalhes. Por exemplo, viu ela o ouro e a prata serem derretidos e derramados na boca dos avarentos. A hierarquia dos demônios, suas funções, seus tormentos, os diversos crimes aos quais presidem, foram-lhe apresentados. Viu Lúcifer, chefe e general dos orgulhosos, rei de todos os demônios e preceitos, rei muito mais infeliz do que os próprios súditos.
O inferno é dividido em três partes: o superior, o do meio e o inferior. Lúcifer encontra-se no fundo do inferno inferior. A Lúcifer, chefe universal, subordinam-se três outros demônios, os quais exercem império sobre os demais:
1) Asmodeu, que preside os pecados da carne, e era antes da queda um Querubim;
2) Mamon, que preside os pecados da avareza, era um Trono. O dinheiro fornece, ele sozinho, uma das três grandes categorias.
3) Belzebu preside aos pecados de idolatria. Tudo que tem algo a ver com magia, espiritismo, é inspirado por Belzebu. Ele é, de um modo especial, o príncipe das trevas, e mediante as trevas ele é atormentado e atormenta suas vítimas.
Inferno, Beato Angélico.
Uma parte dos demônios permanece no inferno, a outra no ar, e uma terceira atua entre os homens, procurando desviá-los do certo caminho. Os que ficam no inferno dão ordens e enviam seus embaixadores; os que residem no ar agem fisicamente sobre as mudanças atmosféricas e telúricas, lançando por toda parte suas más influências, empestando o ar, física e moralmente. Seu objetivo é debilitar a alma.
Quando os demônios encarregados da Terra vêem uma alma enfraquecida pelos demônios do ar, eles a atacam no seu ponto fraco, para vencê-la mais facilmente. É o momento em que a alma não confia na Providência. Essa falta de confiança, inspirada pelos demônios do ar, prepara a alma para a queda solicitada pelos demônios da Terra.
Assim, enfraquecidos pela desconfiança, os demônios inspiram na alma o orgulho, em que ela cai tanto mais facilmente quanto mais fraca esta. Quando o orgulho aumentou sua fraqueza, vêm os demônios da carne que atacam seu espírito. Quando os demônios da carne aumentam mais ainda a fraqueza da alma, vêm os demônios que insuflam os crimes do dinheiro. E quando estes diminuíram ainda mais os recursos de sua resistência, chegam os demônios da idolatria, os quais completam e concluem o que os outros começaram.
Todos se articulam para o mal, sendo esta a lei da queda: todo pecado cometido, e do qual a alma não se arrependeu, prepara-a para outro pecado. Assim, a idolatria, a magia, o espiritismo esperam no fundo do abismo aqueles que foram escorregando de precipício em precipício.
Todas as coisas da hierarquia celeste são parodiadas (imitadas) na hierarquia infernal. Nenhum demônio pode tentar uma alma sem a permissão de Lúcifer.
Os demônios que estão no inferno sofrem a pena do fogo. Os que estão no ar ou na terra não sofrem atualmente tais penas, mas padecem outros suplícios terríveis, e particularmente a visão do bem que praticam os santos. O homem que faz o bem inflige aos demônios um tormento indescritível. Quando Santa Francisca era tentada, sabia, pela natureza e violência da tentação, de que altura tinha caído o anjo tentador e a que hierarquia pertencera.
Quando uma alma cai no inferno, seu demônio tentador é felicitado pelos demais. Mas quando a alma se salva, o demônio tentador recebe insulto dos outros, que o levam para Lúcifer e este lhe inflige um castigo a mais, além das torturas que já padece. Este demônio entra às vezes no corpo de animais ou homens. Ele finge ser a alma de um morto.
Quando um demônio consegue perder certa alma, após a condenação desta transforma-se em tentador de outro homem, mas torna-se mais hábil do que foi a primeira vez. Aproveita-se da experiência que a vitória lhe deu, tornando-se mais forte para perder o homem.
Santa Francisca observava um demônio em cima de alguém que estivesse em estado de pecado mortal. Confessado o pecado, via ela o mesmo demônio ao lado da pessoa. Após uma excelente confissão, o anjo mau ficava enfraquecido e a tentação não tinha mais o mesmo grau de energia.
Ao ser pronunciado santamente o nome de Jesus, Santa Francisca via os demônios do ar, da terra e do inferno inclinarem-se com sofrimentos espantosos, tanto maiores quanto mais santamente o nome de Jesus fora pronunciado.
Se o nome de Deus é pronunciado em meio a blasfêmias, os demônios ainda assim são obrigados a se inclinar, mas um certo prazer é misturado à dor causada pela homenagem que são obrigados a render.
Se o nome de Deus é blasfemado por um homem, os anjos do céu inclinam-se também, testemunhando um respeito imenso. Assim, os lábios humanos, que se movem tão facilmente e pronunciam tão levianamente o nome terrível, produzem em todos os mundos efeitos extraordinários e ecos, dos quais o homem não é capaz de compreender nem a intensidade nem a grandeza.
Fonte: Milagres e Orações Medievais.
O INFERNO SEGUNDO SÃO JOÃO BOSCO
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O inferno é um lugar destinado pela justiça divina para punir com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal.
A primeira pena que os condenados sofrem no inferno é a pena dos sentidos, que são atormentados por um fogo que queima horrivelmente, sem nunca diminuir de intensidade. Fogo nos olhos, fogo na boca, fogo em todas as partes.
Cada sentido sofre a própria pena;
Os olhos |
sofrem pela fumaça e pelas trevas e são aterrados pela vista dos demônios e dos outros condenados. |
Os ouvidos |
Dia e noite, só escutam contínuos uivos, prantos e blasfêmias. |
O olfato |
sofre enormemente pelo mau cheiro daquele enxofre e pez ardente que o sufoca. |
A boca |
é atormentada por sede devoradora e fome canina: EtFamem patiéntur ut canes. O mau rico no meio daqueles tormentos, ergueu o olhar ao Céu e pediu, como grande graça, uma pequena gota de água para mitigar a secura de sua língua e até essa gota de água Ihe foi negada |
Por isso, aqueles infelizes, atormentados pelo fogo, choram, gritam e se desesperam. Oh! inferno, inferno ! Como são infelizes os que caem nos teus abismos! – E tu que dizes, meu filho? Se agora não podes conservar um dedo sobre a pequena chama de uma vela, se não podes agüentar nem uma fagulha de fogo na mão sem gritar, como poderás agüentar-te então entre aquelas chamas por toda a eternidade?
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ASegunda Pena é a Pena nas potências da alma.
Considera além disso, meu filho, o remorso que experimenta a consciência dos condenados. Eles padecerão um inferno na memória, na inteligência, na vontade.
MEMÓRIA |
Recordarão continuamente ó motivo da sua perdição, isto é, por terem querido, secundar alguma paixão. Esta lembrança é o verme que nunca morre: Vermiseórum non móritur. Recordarão o tempo que Deus Ihes deu para evitar a perdição, os bons exemplos dos companheiros, os propósitos feitos e não cumpridos. Pensarão nos sermões ouvidos, nos avisos do confessor, nas boas inspirações para deixar o pecado; vendo que já não há remédio, lançarão gritos desesperados. |
INTELIGÊNCIA |
A inteligência conhecerá finalmente o grande bem que perdeu. A alma separada do corpo, ao apresentar-se no tribunal Divino, entrevê a beleza de Deus, conhece toda a sua bondade, chega quase a contemplar por um instante os cantosharmoniosíssimos dos Anjos e dos Santos. Que dor verificar que perdeu tudo isso para sempre! Quem poderá resistir a tais tormentos? |
VONTADE |
A vontade nada terá do que deseja, e ao contrário padecerá todos os males |
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Meu Filho, Tu que agora não te importas de perder o teu Deus e o paraíso conhecerastua cegueira quando vires; tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu triunfarem e gozarem no reino dos Céus, ao passo que tu serás arrojado para longe daquela pátria feliz, do gozo do mesmo Deus, da companhia da Santíssima Virgem e dos Santos. Eia pois, faz penitencia, não esperes para quando não houver mais tempo: entrega-te a Deus.
Quem sabe se não é este o último chamado, e se não correspondes, quem sabe se Deus não te abandona e não te deixa cair naqueles eternos suplícios! Oh! Meus Jesus, livrai-me do inferno: APoenis inférni libera me, Domine.
O INFERNO SEGUNDO SANTA MARIA FAUSTINA
(Canonizada pelo Papa João Paulo II na Festa da Misericórdia do Jubileu de 2000)
Hoje, conduzida por um Anjo, fui levada às profundezas do Inferno um lugar de grande castigo, e como é grande a sua extensão. Tipos de tormentos que vi:
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Primeiro tormento que constitui o Inferno é a perda de Deus;
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o segundo, o contínuo remorso de consciência;
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o terceiro, o de que esse destino já não mudará nunca;
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o quarto tormento, é o fogo que atravessa a alma, mas não a destrói; é um tormento terrível, é um fogo puramente espiritual, aceso pela ira de Deus;
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o quinto é a contínua escuridão terrível cheiro sufocante e, embora haja escuridão, os demônios e as almas condenadasvêem-se mutuamente e vêem todo o mal dos outros e o seu.
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O sexto é a continua companhia do demônio;
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o sétimo tormento, o terrível desespero, ódio a Deus, maldições, blasfêmias.
São tormentos que todos os condenados sofrem juntos. mas não é ó fim dos tormentos.Existem tormentos especiais para as almas, os tormentos dos sentidos. Cada alma é atormentada com o que pecou, de maneira horrivel e indescritível. Existem terríveis prisões subterrâneas, abismos de castigo, onde um tormento se distingue do outro. Eu teria morrido vendo esses terriveis tormentos, se não me sustentasse a onipotência de Deus.
Que o pecador saiba que será atormentado com o sentido com que pecou, por toda a eternidade.
Estou escrevendo por ordem de Deus, para que nenhuma alma se escuse dizendo que não há inferno ou que ninguém esteve ‘lá e não sabe como é.
Eu, Irmã Faustina, por ordem de Deus, estive nos abismos para falar às almas e testemunhar que o Inferno existe. Sobre isso não posso falar agora, tenho ordem de Deus para deixar isso por escrito. Os demônios tinham grande ódio contra mim, mas, por ordem de Deus tinham que me obedecer O que eu escrevi dá apenas uma pálida imagem das coisas que vi.; Percebi, no entanto, uma coisa: o maior número das almas que lá estão é justamente daqueles que não acreditavam que o Inferno existisse. Quando voltei a mim, não podia me refazer do terror de ver como as almas, sofrem terrivelmente ali e, por isso, rezo com mais fervor ainda pela conversão dos pecadores; incessantemente, peço a misericórdia de Deus para eles. “O meu Jesus, prefiro agonizar até o fim do mundo nos maiores suplícios a ter que vos ofender com o menor pecado que seja.”
O INFERNO SEGUNDO Sta TEREZA D’ AVILA
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Havia muito tempo que o Senhor me fazia muitas graças já referidas e outras ainda maiores, quando um dia, estando em oração, achei-me subitamente, ao que me parecia, metida corpo e alma no inferno. Entendi que o Senhor queria fazer-me ver o lugar que os demônios aí me haviam preparado, e eu merecera por meus pecados. Durou brevíssimo tempo. Contudo ainda que vivessemuitos anos, acho impossível esquecê-lo.
A entrada pareceu-me um túnel longo e estreito, semelhante a um forno muito baixo, escuro e apertado. O chão tinha aparência de uma água, ou antes, de um lodo sujíssimo e de odor pestilencial, cheio de répteis venenosos. No fundo havia uma concavidade aberta numa parede, como um armário, onde me vi, encerrada de maneira muito apertada.
2. O tormento interior é tal, que não há palavras para o definir, nem se entende como é realmente. Na alma senti tal fogo, que não tenho capacidade para o descrever. No corpo eram incomparáveis as dores. Tenho passado nesta vida dores gravíssimas. No dizer dos médicos são as maiores que se podem suportar, como, por exemplo, quando se encolheram todos os meus nervos, e fiquei tolhida. Já não falo de outras muitas dores de diversos gêneros e até algumas causa das pelo demônio. Posso afirmar que tudo foi nada em comparação do que ali experimentei.
O pior era saber que seria sem fim, sem jamais cessar.
Sim, repito, tudo mais pode chamar-se nada em relação ao agonizar da alma: é um aperto, um afogamento, uma aflição tão intensa, e acompanhada de uma tristeza tão desesperada e pungente, que não sei como posso explicar semelhante estado! Compará-lo à sensação de que vos estão sempre a arrancar a alma, é pouco. Em tal caso, seria como se alguém nos acabasse com a vida. Aqui é a própria alma que se despedaça. O fato é que não sei como descrever aquele fogo interior e aquele desespero que se sobrepõem a tão grandes tormentos. Eu não via quem os provocava, mas sentia-me queimar eretalhar.Piores, repito, são aquele fogo e aquele desespero que me consumiam interiormente.
Em lugar tão pestilencial, sem esperar consolo, é impossível sentar-se, ou deitar-se, nem há espaço para tal. Puseram-me numa espécie de fenda cavada na muralha. As próprias paredes, espantosas à vista, oprimem, e tudo ali sufoca. Por toda parte trevasescuríssimas.Não há luz. Não entendo como, sem claridade, se enxerga tudo, causando dor nos olhos.Nesta ocasião o Senhor não quis que eu visse mais de tudo aquilo que há no inferno.
Em outra visão, vi coisas horripilantes acerca do castigo de alguns vícios. Pareceram muito mais horrorosas à vista. Como não sentia a pena, não me causaram tanto temor como na primeira visão, na qual o Senhor quis que eu verdadeiramente sentisse aquelas torturas e aquela aflição de espírito como se o corpo as estivesse padecendo. Como foi isso, não sei, mas bem entendi ser grande graça do Senhor querer que eu visse, com meus olhos, de onde sua misericórdia me havia livrado.
Verdadeiramente é nada ouvir discorrer, ou ainda meditar, sobre a diversidade dos tormentos, como eu de outras vezes havia feito, embora raramente. A feição de minha alma não é ser levada pelo temor. Lia que os demônios atenazam as almas e lhes infligem outros suplícios. Tudo é nada a respeito da verdadeira pena, que é muito diferente. Numa palavra, é tão diferente quanto o esboço o é da realidade. Queimar-se aqui na terra é sofrimento muito leve em comparação com aquele fogo de lá.
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Fiquei tão aterrorizada, e ainda agora o estou enquanto escrevo, apesar de terem decorrido quase seis anos. De tanto temor, tenho a impressão de ficar gelada. Desde então, ao que me recordo, cada vez que tenho sofrimentos ou dores, tudo o que se pode passar na terra, me parece nada. Penso que em parte nos queixamos sem motivo. Foi esta, repito,uma das maiores graças que o Senhor me fez. Valeu-me imensamente, quer para perder o medo quanto às tribulações e contradições desta vida, quer para me esforçar em padecê-Iase a dar graças ao Senhor, por me ter livrado, ao que agora me parece, de males tão perpétuos e terríveis.